Segunda, 24 de novembro 2008
Text: Ana Schnabl
Ljubljana – O Festival Internacional Contemporâneo de Artes Cênicas Exodos está acontecndo esse dias de novembro e entre outras coisas assistimos a performance de Ricky Seabra Império, Love to Love You, Baby, que o artista apresenta duas vezes na grade do festival.
Neste projeto, Império, Love to Love You, Baby, Ricky Seabra desconstroi fixações nacionais americanas.
Antes de ser desenhista gráfico para Miramax Films, Seabra se formou bacharel em comunicação visual e fez mestrado em desenho industrial. Nove anos atrás deixou o seu emprego e se mudou para Amsterdam para se tornar contador de histórias – performando no palco.
Contra o imperialismo
Seabra é portador de um passaporte brasileiro assim como um americano e é justamente esta dualidade que legitima o seu projeto apresentado na última sexta e sábado no Plesni Teater Ljubljana (mais precisamente, o “Imperial PTL Thetater” como ele o denominou) imbutindo este projeto com uma conivência muito apreciada. Seabra, uma espécie de palestrante/performer se desafia a descontruir fixações nacionais – se não nacionalistas – americanas que muito eficientemente conseguem penetrar na pele, ou melhor nas “almas do indivíduos”. Passa também pela fantasmagória do fenomeno da cultura pop pós 11 de setembro enquanto explica que os fundamentos históricos que levaram a tudo isso vêem de longa data. Ele fala como os pontos de interrogação no final de certas frases do hino nacional americano foram apagados para que não houvesse dúvida quanto ao senso americano de igualdade, liberdade e coragem. Discute a santidade da bandeira americana, o símbolico slogan da guerra do Iraque “Support Your Troops” (Apoie as suas tropas), a supremacia ética do exército americano e outras formas de comportamento imperial. Sua performance/palestra é cômico e satírico e se assemelha com a de um “stand-up comedian” com um conceito dramatúrgico excelente composto de animações ao vivo, hits, programas de TV, projeções de sites na internet e uma coreografia muito bem pensado e persuasivo.
Com a aparição de Rickyoncé, a nova Imperatriz que aposta num bootyliscious Estados Unidos da América – a ironia das tendências imperialistas americanas é trazida para o absurdo. Seabra, que em sua versão travestida, oscila entre o ponto de vista de uma estrela da MTV e a lógica de um Quaker, tem muitas idéias sexys e sugestões de como os Filhos de Sam podem realmente dominar o mundo. De qualquer forma, Imperio, Love to Love You, Baby, deixa o espectador com uma impressão ambígua. Fazer pouco dos ícones e símbolos americanos e recontextualizando estas imagens, é de fato uma crítica e certamente o artista se posiciona contra o imperialismo de sua terra natal que origina de um conciente coletivo demônico (ou como o autor diz: é sobre “deep shit”. O alvo da ofensiva de Seabra porém não está limitado ao nacionalismo americano mas também aponta para a instituição de preconceito e estereótipos que não americanos alimentam sobre a América e o seu povo. Em outras palavras, Seabra não está tentando fazer apologias da identidade americana nem está tentando ser moralista, mas ele se coloca exatamente no lugar onde a maioria das pessoas veem os EUA: os disseminadores da verdade sagrada. Seabra não tenta forçar esta verdade em você mas apenas lança uma luz nos seus mecanismos.
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